Saturday, January 27, 2007

Tributo a um jovem senhor que virou estrela




Hoje morreu o pai de uma das minhas melhores amigas e por indisponibilidade de tempo não poderei estar com ela neste momento (Sara te amo e estou com você sempre, ainda que distante!)
A morte é um evento que nunca me assustou, tomara que demore, mas sempre me considero preparada para ela, o que me assusta mesmo é a vida: a que vivemos e a que deixamos de viver. Estamos sempre muito ocupados e preocupados com o tempo que não volta mais, com as oportunidades que perdemos, com as viagens que não fizemos e esquecemos do que ainda há por vir.
Ítalo, pai da minha amiga Sara, não se preocupava demais com o que já havia passado, ao contrário, estava sempre com os olhos voltados para o futuro. Forte, inteligente, talentoso, gentil - do modo que sabia ser - e cheio de planos para o futuro, mesmo quando o futuro se mostrou curto e incerto, soube morrer com a sabedoria e a decência dos bravos.

Enquanto muitos se agarrariam em tristeza e melancolia ele deixou-nos um exemplo de serenidade e resignação, mas, contudo, sem nunca se sentir derrotado pela doença que lhe consumia a vida aos poucos.

Nesta vida estamos todos morrendo, a cada dia morremos um pouco e por isso pensar demais no que deveria ter sido e não foi acaba sendo uma perda de tempo sem nenhum propósito. É melhor viver a vida hoje e agora ... única coisa para a qual a emergência realmente tem alguma valia. As noites que não saí, os sorvetes que não tomei, as praças que não visitei devem fazer parte do meu futuro e não do meu passado...esta é a vida que este jovem senhor que virou estrela viveu e ensinou às suas filhas e a que eu quero morrer aprendendo...

8 comments:

Anonymous said...

Juraciara,
Vim retribuir sua visita e me deparo com um texto leve, seguro, aprofundando questões que nos são muito cara. Algumas coisas em comum: a admiração por Dostoiévski (assim como os demais russos de sua época)e a poesia.
Gostaria de "linkar" teu blog. Será uma contribuição, um presente aos meus amigos e visitantes.
Retornarei sempre. Espero você lá no politicamente.
Boa semana pra vc. e os seus.

Anonymous said...

Amiga...

Ainda nem sei bem por onde começar, mas sinto uma imensa necessidade de retribuir suas palavras – não só porque me são caras e oportunas (como poucas foram nesses dias cruéis), mas talvez, e principalmente, porque encontrei aqui uma forma de homenagear esse homem a quem tenho o orgulho e o privilégio de chamar de PAI.
...
Estava, até pouco, por insônia e desespero, na procura mórbida daqueles papéis necessários à solução das questões burocráticas que porão fim a uma vida civil, numa tentativa frustrada de tratar com objetividade e frieza um assunto que noutras circunstâncias nos seria comum...
Mexendo e remexendo seus arquivos, descobrindo e redescobrindo suas facetas, me deparei com toda sua vida: a vida de um homem que só tinha ponto de partida.
Mais uma vez ele partiu, como fez tantas outras vezes. Missionário. Afinal, não era ele isto?
Sua missão? Vivenciar, conhecer, contribuir, ajudar, contestar, lutar, transgredir, tentar, tentar de novo, tentar mais uma vez.
E assim ele fez, até o último suspiro. Sempre com serenidade, VALORizando cada instante, “com a sabedoria e a decência dos bravos”.
Sua última lição? Ensinou-nos a agradecer. Somente agradecer. Era o que ele queria: agradecer.
E por isso lhe sou grata. Por isso eu agradeço. Agradeço a ele, por ele, por ter sido quem foi, por ter sido meu pai, por ter me cuidado, por ter me educado, por ter incutido em mim seus valores e princípios, sua bravura, sua força, seu carinho, seu amor. Agradeço a ele por ser quem sou. Agradeço a ele pela minha família. Agradeço a ele por estar SEMPRE presente. Agradeço por ele ter partido, pela sua última lição nesta vida. Agradeço a ele por me proporcionar tão belas lembranças. Agradeço a ele por ter me mostrado a importância de agradecer a tudo, a todos, ao Criador. Pela fé.
Quero só agradecer, minha amiga. Agradecer também a você, por você.
Quero deixar aqui um pensamento de Santo Agostinho, que nos foi dado por uma Irmã:
“A morte não é nada. Apenas passei para o outro mundo. Eu sou eu. Tu és tu. O que fomos um para o outro ainda o somos. Dá-me o nome que sempre me deste. Fala-me como sempre me falaste. Não mudes o tom para um triste ou solene. Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos. Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo. Que o meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou: sendo o que era. O cordão de união não se quebrou. Por que estaria eu fora dos teus pensamentos, apenas por que estou fora da tua vista? Não estou longe, somente estou do outro lado do caminho. Já verás, tudo está bem... Redescobrirás o meu coração e nele encontrarás a ternura mais pura. Seca tuas lágrimas e se me amas não chores mais”.
Fiquemos com Deus (e com o papai, que tá logo ali do lado!)
Te amo!
Sara

Anonymous said...

Ju;

Lindo!!!Sarinha, beijos para vc.

Anonymous said...

Ju,

muito legal...

Obrigada por dividir (compartilhar), multiplicar e somar. Cada dia é uma oportunidade para a vida e aprender.
Beijim

Corina

Ricardo Rayol said...

Juraciara,

Feliz daquele que ao deixar a vida deixe também tantos bons ensinamentos e lembranças. Bela homenagem.


PS: Obrigado pela visita.

Marco Aurélio said...

Como já te disse, a morte é algo que sempre me incomodou. “Foi tiro ou facada!?” Acho que nunca estarei preparado para ela. A vida ao contrário não me assusta. A que deixamos de viver me assola e angustia. Estamos sempre muito distraídos “vivendo” e nos esquecemos do tempo que não volta mais e no que perdemos.É verdade; estamos morrendo, a cada dia. Melhor viver agora. Quero tomar os sorvetes que não tomei e ir nas praças que não visitei. Quero meu futuro de volta!

Té mais

Anonymous said...

Ju, este poema que fez para Sara e para o Italo,além de belo foi para nossa amiga uma maneira de se sentir conforto diante de uma perda tao significante.Continue assim, sensivel e escrevendo coisas apaixonantes que somente descobri agora tendo um contato maior com voce.
Voce é especial.

Anonymous said...

Ju,
lindas as suas palavras, que conseguem de forma carinhosa adoçar lembranças tristes.

Gostaria de registrar meus agradecimentos em relação ao pai da Sara. O Sr. Ítalo, mesmo com a saúde debilitada, deu-me o prazer de celebrar meu casamento, dando sua benção. Nunca vou esquecer seu carinho. Fique sempre com Deus e, agora, ao lado Dele.

Aproveito para deixar um recado para Sara: saiba que você é uma pessoa muito especial, uma puta AMIGA (acho que essa palavra já diz tudo). Amo muito você. Espero que suas escolhas lhe tragam ótimos frutos. É um momento muito difícil de tomar decisões, mas tenho certeza que você o fará da melhor forma. Beijos.
P.S.: Estou com saudades. Estou aqui em Betim (que nunca mais será a mesma sem você... nossas conversas em sua casa, confidências, farras - bota farra nisso...)
Beijos,
Tuína.