Wednesday, August 02, 2006

Relações de consumo


A globalização é muito mais que a economia de mercado, os grandes negócios transnacionais e a massificação cultural advinda de tudo isto. Ela traz consigo conseqüências humanas relevantes, que vão desde a pobreza e a miséria tornadas comuns e inexoráveis até a mercantilização das relações afetivas.
Em um mundo no qual consumir se tornou a palavra de ordem, absolutamente nada que não estiver intimamente ligado a tal verbo é considerado útil. A saúde do capitalismo depende de forma crucial do homem consumidor e, de preferência, de um consumidor incapaz de fazer qualquer valoração acerca da necessidade ou não no ato de consumir.
As relações afetivas não passam ilesas às exigências do mercado: é preciso consumir! Nenhuma relação pode ser fadada ao perpétuo, nem as com os objetos – propriamente ditos – nem as relações entre pessoas, sob pena de haver um sério corte na cadeia consumidora.
Dentro desta perspectiva, pessoas se tornam coisas, relações íntimas se transformam em meios, nem sempre hábeis, para a busca de satisfação imediata de um desejo que nem mesmo os envolvidos conseguem entender suas razões.
A globalização trouxe para o seio das famílias uma tendência ao consumismo desenfreado, não valorativo, no qual pessoas são descartadas dentro da mesma lógica de uma economia de mercado.
A economia de mercado produz o efêmero, o precário, o volátil. Nenhuma relação com objetos deve ser feita para durar, caso contrário, o mercado se estagnaria e o capitalismo estaria condenado ao fim. É preciso criar desejos, conceber o inconcebível, satisfazer o agora para então, novamente, demonstrar que existe um mundo novo de possibilidades as quais aqueles que se mantiverem de fora estarão condenados a não ter. E, “não ter” significa não estar inserido, ser marginal. Adjetivos estes que ninguém quer possuir dentro desta "roda que nunca pára".
A sociedade de consumo deve ser composta por pessoas impacientes, impetuosas e indóceis que deverão ser facilmente instigáveis para perderem o interesse no objeto o mais depressa possível, eis que a cultura da sociedade de consumo deve ser baseada no esquecimento e não no aprendizado.
As relações tornam-se um constante poema de Walt Whitman “Canto da Estrada Aberta”, no qual não é permitido permanecer, ainda que sejam doces e aconchegantes os “armazéns”.
O estarrecedor deste novo mundo é que as pessoas passam a agir assim sem nem mesmo saberem o porquê de suas atitudes: agem como compulsivos e mascaram sua compulsão sob o nome de vontade. Acreditam fielmente que são elas que escolhem, quando, na verdade, não passam de iscas de um sistema frio e desprovido de sentido humano.
A relação com o mundo torna-se algo puramente estético, sem qualquer valoração: não importa o que ficou para trás, importante é o que virá logo após, ali sim, reside toda a felicidade para o homem do consumo.