Saturday, July 01, 2006

Tolerância: o caminho para a paz



O homem desenhado por Dostoiévski no livro "Memórias do Subsolo" nos demonstra o tamanho da pretensão humana em estabelecer um ideal de justiça que se queira válido para todos. Freud, citado por Eugène Enriquez, também nos dá um esboço parecido sobre o tema:

“o homem é, com efeito, tentado a satisfazer sua necessidade de agressão à custa do próximo, a explorar o seu trabalho sem compensá-lo, a usá-lo sexualmente sem seu consentimento, a apropriar-se de seus bens, a humilhá-lo, a impor-lhe sofrimentos, a martirizá-lo e a matá-lo. Homo homini lupus: quem teria coragem, diante de todos os ensinamentos da vida e da história de contrariar esse adágio?”[1]

É este homem, tanto o da literatura dostoieviskiana, quanto o dos estudos psicanalíticos de Freud, que tenta buscar em suas teorias um ideal absoluto de bom, de justo, de virtuoso, entretanto, nem ele mesmo sabe se seria verdadeiramente capaz de se comportar conforme tenta prescrever.
Aceitar o relativismo de valores proposto pelo Jurista e Filosofo Hans Kelsen é o mesmo que afirmar que todo e qualquer princípio de justiça pode e deve ser aceito, pelo menos a priori. Aquele que concebe um ideal absoluto de justo estará fazendo parte da crença ingênua de que somente seu ponto de vista ou seus valores são parte da história cultural de todo um povo. Não admitir o pluralismo de valores e, conseqüentemente dos princípios de justiça é, em última instância, negar a própria essência contraditória do homem.
Ser relativista no que se refere aos princípios de justiça é ser tolerante e a tolerância impõe que formalmente devemos respeitar a diferença, ainda, e principalmente, quando ela não é por nós compartilhada.
Recusar a diferença seria o mesmo que cair em um narcisismo mortífero e destrutivo, no qual o outro deixaria de ser o nosso espelho, e com isto nossa medida, para tornar-se um inimigo a ser combatido. Se todo ser humano deve contribuir para a vida do espírito, conforme acreditava Freud, sob pena “de cair vítima de uma doença esterelizante e mutiladora ou, pior ainda, de tornar-se o arauto do mais radical, deve ver no outro um ser que, embora diferente,”[2] é indispensável à sua própria existência.
Um princípio de justiça relativo é aquele que permite o pluralismo por meio da tolerância: que prefere Eros a Tanatos. E este é o caminho apontado por Kelsen, o caminho que devemos seguir.

[1] NOVAES, Adauto (Coord.). Civilização e Barbárie. p.53.
[2] NOVAES, Adauto (Coord.). Ob. cit. p.53.

3 comments:

Anonymous said...

Ju, não tenho o dom de escrever como vc, mas queria ser a primeira a dizer o quanto eu a admiro e te amo, continue sempre escrevendo e repassando para nós seus profundos conhecimentos. Continuo sempre aprendendo com vc, mas não se esquece de viver também, ta trabalhando muito rs. Além de inteligente vc tem também o dom da amizade verdadeira e é por isso que a considero minha melhor amiga, conte sempre comigo sempre. bjs. Karina

Juraciara said...

Karina,

Você sabe minha querida amiga que a recíproca é mais que verdadeira. Quanto aos conhecimentos que tenho a te passar...são puro "achismo", não confie neles, pois nem eu mesma confio... bjos

Anonymous said...

bom comeco